quinta-feira, 10 de março de 2011

Mediocridade, hipocrisia e miopia: Justiça decide que creches de SP não podem tirar férias

Baseando-se em uma visão medíocre, hipócrita e míope, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou à Prefeitura de São Paulo que mantenha as creches e pré-escolas abertas durante as férias de janeiro. Isto porque entendeu que estes locais constituem um serviço público essencial, não apenas relacionado à educação, mas à assistência social.

Ora, em um país hipócrita, que somente fala que educação é importante, mas não age para garantir uma educação de qualidade para todos, não é de se admirar que esta decisão tenha saído do tribunal do maior estado do país.

Mesmo com todos os exemplos de outros países e estudos que comprovem a importância da Educação Infantil para o desenvolvimento humano, o país, e ora, São Paulo, ainda vê esta área da Educação (sim, esta área é tão educacional ou até mais que as outras) como “assistencialista”.

Embora saibamos da realidade de nosso país, enquanto não mudarmos esta visão medíocre de que as creches só existem para as mães terem onde deixar seus filhos, não atingiremos mesmo, nem em 50 anos, a qualidade dos países desenvolvidos no que diz respeito à educação.

Embora o discurso seja um, de que a Educação Infantil faça parte da educação básica de nosso país, na prática, isto não acontece, pois desde as famílias até as instâncias superiores, a descrença causa decisões deste tipo.

Assim como qualquer nível de educação, os alunos das creches e emeis precisam, sim, de férias. Afinal, a própria Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) afirmam que a educação é um processo que ocorre na família, na escola e na sociedade. Sendo assim, as crianças precisam ter um tempo com seus pais.

Além disto, é neste período que as manutenções ocorrem, afinal, o que ficaria prejudicado, pois nem todas as reformas são possíveis com os alunos em aula.

E por último, é inaceitável que os poderosos deste país ainda vejam os professores de Educação Infantil como meros “cuidadores de crianças”. Pois é neste período que nós, profissionais cientes de nossa responsabilidade com a educação, planejamos o ano letivo, pensamos sobre nossas práticas, fazemos cursos, tendo em vista que iniciaremos e terminaremos um trabalho, junto com os alunos, pais e com a comunidade.

Não esqueço o problema dos pais que têm que trabalhar, mas por que estes mesmos pais conseguem “dar um jeito” quando seus filhos mais velhos entram de férias e não o conseguiriam com os menores?

A Prefeitura mesmo já mostrou que a demanda por creches em janeiro é muito pequena. E ainda que faltem vagas, como reclamaram os defensores públicos que atuam em São Miguel Paulista, o caminho não é generalizar.

O certo a se fazer, neste caso, é fazer um levantamento de quantas crianças precisam ser deixadas nas creches neste período, convocar profissionais que queiram trabalhar e abrir as escolas conforme a demanda.

Não podemos ser tratados como uma massa uniforme, mesmo em uma cidade com onze milhões de habitantes. Somos indivíduos e precisamos ser respeitados como tal.

Espero com muita fé que a Justiça perceba o erro que comete, e volte atrás em sua decisão. Pois...

“O homem nada mais é do que aquilo que a educação fez dele".
Emmanuel Kant

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