segunda-feira, 31 de maio de 2010

Concepções de Desenvolvimento: Construtivismo, por Wallon

Segundo La Taille (1992), Wallon passou sua longa existência de oitenta e três anos (1879-1962) em Paris. Foi médico durante a primeira guerra, filiou-se ao partido comunista e presidiu a comissão que elaborou um projeto de reforma de ensino na França de teor tão avançado que permanece parcialmente irrealizado: pois, à maneira socialista de Makarenko, Wallon concebe o estudo como trabalho social mediato, e prevê para os estudantes a partir do segundo grau um sistema de pré-salários e salários.
A matéria-prima de sua obra foram mais de 200 observações de crianças doentes, casos de retardo, epilepsia, anomalias psicomotoras em geral. As bases de sua concepção metodológica é que convém à psicologia um tratamento histórico (genético), neurofuncional, multidimensional, comparativo.
Conforme Galvão (2004), Wallon propõe o estudo integrado do desenvolvimento – afetividade, motricidade, inteligência -, como campos funcionais entre os quais se distribui a atividade infantil. O homem é um ser “geneticamente social”. É a psicogênese da pessoa completa. “A afetividade refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis e desagradáveis.”
A expressão corporal das emoções é o destaque da análise walloniana, ao sugerir que todas as emoções podem ter uma vinculação recíproca entre o tônus, o movimento e a função postural: a cólera vincula-se ao estado de hipertonia, no qual há excesso de excitação sobre as possibilidades de escoamento
A autora explica que para Wallon, as emoções têm um poder de contágio nas interações sociais, evidenciando o seu caráter coletivo, facilmente identificado nos jogos, danças, rituais, onde há simetria de gestos e atitudes, movimentos rítmicos, comunhão de sensibilidade, uma sintonia afetiva que mergulha todos na mesma emoção.
Para Wallon os espasmos do recém-nascido não são apenas um ato muscular, de contração dos aparelhos musculares e viscerais: existe bem-estar ou mal-estar tanto no espasmo como na sua dissolução. Tensão é provocada pela energia retida e acumulada: riso, choro, soluço aliviam a tensão dos músculos.
Wallon identifica, segundo Galvão (2004), o processo de alternância na predominância dos conjuntos, em cada estágio de desenvolvimento, por ele classificado em impulsivo-emocional e tônico-emocional (do zero aos 12 meses), sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos), personalismo (3 a 6 anos), categorial (6 a 11 anos), e adolescência (11 anos em diante).
Embora proponha uma série de estágios do desenvolvimento cognitivo, Wallon não acredita que os estágios de desenvolvimento formem uma sequência linear e fixa, ou que um estágio suprima o outro. Para ele, o estágio posterior amplia e reforma os anteriores. O desenvolvimento não seria, um fenômeno suave e contínuo; pelo contrário, o desenvolvimento seria permeado de conflitos internos e externos.
Segundo a autora, é natural que, no desenvolvimento, ocorram rupturas, retrocessos e reviravoltas. Os conflitos, mesmo os que resultem em retorno a estágios anteriores, são fenômenos geradores de evolução. A mudança de cada estágio se caracteriza um tipo diferenciado de comportamento, uma atividade predominante que será substituída no estágio seguinte, além de conferir ao ser humano novas formas de pensamento, de interação social e de emoções que irão direcionar-se, ora para a construção do próprio sujeito, ora para a construção da realidade exterior.
O primeiro estágio, o impulsivo-emocional, que ocorre no recém-nascido, é um estágio predominantemente afetivo, onde as emoções são o principal instrumento de interação com o meio. A relação com o ambiente desenvolve, na criança, sentimentos intraceptivos e fatores afetivos. No segundo, o tônico-emocional, que ocorre em crianças de 6 aos 12 meses, o movimento, como campo funcional, ainda não está desenvolvido, a criança não possui perícia motora. Os movimentos infantis são um tanto quanto desorientados, mas a contínua resposta do ambiente ao movimento infantil permite que a criança passe da desordem gestual às emoções diferenciadas.
O estágio sensório-motor, dos 12 meses aos 24 meses, é uma fase onde a inteligência predomina e o mundo externo prevalece nos fenômenos cognitivos. A inteligência, nesse período, é tradicionalmente particionada entre inteligência prática, obtida pela interação de objetos com o próprio corpo, e inteligência discursiva, adquirida pela imitação e apropriação da linguagem.
No estágio projetivo, dos 2 aos 3 anos, os pensamentos, muito comumente se projetam em atos motores. Surge quando o movimento deixa de se relacionar exclusivamente com a percepção e manipulação de objetos. A expressão gestual e oral é caracterizada pelo pensamento como representação das imagens mentais por meio de ações, cedendo lugar à representação, que independe do movimento. A atividade projetiva produz representação e se opõe a ela, permitindo que a criança avance em relação ao pensamento presente e imediato. Wallon dá grande importância ao simulacro e á imitação que considera imprescindíveis para novas aprendizagens. A partir deste estágio a criança é capaz de dar significado ao símbolo e ao signo.
Ao estágio sensório-motor e projetivo sucede um momento com predominância afetiva sobre o indivíduo: o estágio do personalismo (3 aos 4 anos). Este estágio, que se estende aproximadamente dos três aos seis anos de idade, é um período crucial para a formação da personalidade do indivíduo e da auto-consciência. Uma consequência do caráter auto-afirmativo deste estágio é a crise negativista: a criança opõe-se sistematicamente ao adulto. Por outro lado, também se verifica uma fase de imitação motora e social.
O estágio do personalismo é sucedido por um período de acentuada predominância da inteligência sobre as emoções. Neste estágio, o categorial, a criança começa a desenvolver as capacidades de memória e atenção voluntárias. Este estágio geralmente manifesta-se entre os seis e os onze anos de idade. Formam-se as categorias mentais: conceitos abstratos que abarcam vários conceitos concretos sem se prender a nenhum deles. No estágio categorial, o poder de abstração da criança é consideravelmente amplificado. Provavelmente por isto mesmo, é nesse estágio que o raciocínio simbólico se consolida como ferramenta cognitiva.
No estágio da adolescência (a partir dos 11 anos), a criança começa a passar pelas transformações físicas e psicológicas da adolescência. É um estágio caracterizadamente afetivo, onde passa por uma série de conflitos internos e externos. Os grandes marcos desse estágio são a busca de auto-afirmação e o desenvolvimento da sexualidade. Os estágios de desenvolvimento não se encerram com a adolescência, o processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um novo estágio. O indivíduo, ante algo em relação ao qual tem imperícia, sofre manifestações afetivas que levarão a um processo de adaptação. O resultado será a aquisição de perícia pelo indivíduo. O processo dialético de desenvolvimento jamais se encerra.

Referências

GALVÃO, I. Henri Wallon: uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil.1ª ed. São Paulo: Editora Vozes, 2001.

LA TAILLE,Y.;OLIVEIRA,M.K.; DANTAS,H. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência. In:Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão .14ª ed. São Paulo: Summus, 1992, p. 35-44.

Um comentário:

  1. A sua caminhada não é solitária. Siga em frente e confie no cósmo estamos sempre sendo requisitados e amparados.
    Muita paz e vitórias em 2011.

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