Eu já sabia que existe uma certa "diferença" entre professores da rede pública e da particular. Diferença no sentido de cada um ter um estereótipo formado do outro. Para explicar melhor, vou relatar o que aconteceu comigo hoje.
Estávamos no intervalo, quando uma professora perguntou-me se minha mãe era professora (pois eu fui indicada por uma professora de lá e que também trabalha na rede pública, com minha mãe). Respondi que sim. Ela comentou sobre minha mãe, meu irmão e eu sermos professores e, como é de costume, soltou um "coitados".
Nisto, uma outra professora também entrou na conversa e disse que quando alguém lhe fala que está fazendo Pedagogia, ela diz um "boa sorte", ironicamente, claro.
Comentei que eu não achava a área ruim, pois já tinha experimentado outras e vi que ela era bem melhor, pelo menos para mim. (Não sei se já comentei aqui, mas o principal motivo da troca é que na educação, só aguento adulto de vez em quando, em reunião de pais. Trabalhar com criança é mil vezes melhor).
E aí que a outra respondeu que havia trabalhado no Estado (de São Paulo) três anos e enfatizou "PARA NUNCA MAIS".
Quando ela falou assim, já desanimei. Achei que poderíamos ter algo em comum, já que eu sou professora da rede pública também. Mas como o que é ruim pode sempre piorar, ela metralhou, junto com a outra, um monte de coisas sobre suas experiências mal sucedidas na rede pública.
Disse que lá não dá pra trabalhar, pois não tem material, os alunos são desinteressados, a estrutura é ruim. E por aí vai.
A outra, pra piorar, ainda disse que saiu da rede pública porque os alunos não tinham roupa e iam fedidos. Disse ainda: "eu saia da sala com aquele cheiro".
Já estava de saco cheio de ouvir, mas elas continuaram. Uma disse que gostava de escola particular porque se tem estrutura para trabalhar, pois professor tem que dar o sangue, coisa que concursado não faz! Peraí!!! EU SOU CONCURSADA!!!
Nossa: e continuaram dizendo que "professor da rede pública só prestava concurso para "amarrar o burro" e não trabalhar". "Que professor de escola pública ganha bem para não fazer nada".
Eu estava calma e não retruquei, mas isto meu deu tanto ânimo pra escrever na madrugada...vamos lá!
Em primeiro lugar, esta conversa não difere em nada do que já ouvimos por aí. E o pior, isto mostra o quanto nossa categoria é desunida. Uns falam reproduzem esteriótipos por aí sem pensar nas consequências.
Tudo bem. Sei que tem muito "professor" que faz isto aí mesmo. Presta um concurso, passa e amarra o burro. Também é verdade que a rede pública, pelo menos em São Paulo, paga melhor que muitas, e muitas escolas particulares. E pasmem: mesmo as particulares consagradas pagam um miséria.
Mas a razão delas para por aí. Primeiro. Elas desistiram de pegar grandes desafios. Afinal, o que é mais difícil: trabalhar com crianças cheirosas, limpinhas, bem cuidadas, com materiais e roupas de marca e, principalmente com o apoio e cobrança dos pais, ou com aquelas que não tem nem o que comer em casa, moram em favelas, andam pra chuchu pra chegar à escola, e ainda são trazidas pelo irmão mais velho, de apenas oito anos?
Quando prestei o concurso, sabia da estabilidade e do "bom" salário. Mas também sabia que poderia encontrar filhos de mães solteiras, que dão pouca atenção ao filho, que por sua vez, vão mau cheirosos à escola. E é isto que motiva: fazer diferença para quem precisa muito da minha ajuda.
Não que os alunos da particular não precisem, mas ali, eu sou apenas mais uma "tia". Para muitos da pública, eu sou a única esperança!
O desabafo não acaba aqui! Aguardem o próximo post!
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